segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mãe, olha o que eu escrevi...

Quero expressar minha revolta. Revolta em não conseguir fazer uma poesia que preste, uma música simplesmente. Por nada sair como o sonhado, mesmo se tendo lutado, nunca vai mesmo sair como o planejado. Por verem as estatísticas e tratarem-nas como mais algumas para a matéria jornalística. Por menina fazer papel de guerreiro, quando a vida não a mostra outro meio de continuar. Por amar. Por amando seguir machucando. Por transformarem lugares em não lugares, humanos em não humanos, crianças em adultos. Por quebrarem os arbustos das árvores. Por falta de escrita pessoal, para mim isso causa um seríssimo problema individual, social, populacional, animal, racional e mais que tudo emocional. Por não soltarem o verbo. Por soltarem balões. Por acabarem com a festa dos foliões. Por ter fim o carnaval. Por não chegar ao fim o mal. Por querer mil palavras quando só tem uma. Por ter que silenciar e não gritar. Por ter que escolher uma profissão que dê dinheiro e não algo que seja como um permanente recreio. Por me cobrar mais idade essa sociedade. Por faltar inspiração e sobrar canção. Por passarinho deixar seu ninho. Por não voar. Por ler e não saber escrever. Por ver que a tentativa foi vã. Por saber que talvez numa outra manhã... De repente amanhã uma rima, uma melodia, uma sintonia. Uma poesia.

(Juliana Reis)

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